terça-feira, 30 de agosto de 2011

Série Pretinhas do Leite: Essas irmãs valem ouro!

Desviar das pessoas, negar as ofertas de exames e consultas, ter atenção para não se esbarrar em nenhuma guia e ser fisgado pelas ofertas. São algumas das coisas que a maioria das pessoas fazem ao caminhar na Avenida Sete. Compondo esse cenário, estavam as bem-humoradas irmãs Adriana Santos, 24, e Gabriela dos Santos, 25, vestidas de “sanduíche” anunciando em alto e bom som a compra de ouro: “Ouro, Ouro, compro Ouro! Relógios, joias, anel, pulseiras e correntes...”


Moradoras do Pau Miúdo, as irmãs Santos vivem com a família. Adriana tem um filho de oito anos e Gabriela tem um de dois, ambos morando na mesma casa. Após tentar conseguir o primeiro emprego e receber não como resposta, Adriana buscou trabalho informal. Por necessidade foi trabalhar como panfleteira, no mesmo prédio recebeu uma oferta melhor e convidou sua irmã que também estava desempregada. Para cada resposta na entrevista elas riam e se entreolhavam como se buscassem uma na outra o apoio para suas falas.

Para Adriana, trabalhar como placa ambulante não é algo que ela considere ideal ou o melhor para si, apesar de tudo as irmãs se divertem a todo momento. As duas são bastante diferentes, Gabriela é um ano mais velha e gosta de ficar em casa, é mais calma, prefere um filme e sonha em ter um salão de beleza, apesar de não gostar de maquiagem, ou até mesmo de brincos. Já Adriana é o oposto, exibe suas unhas grandes pintadas de vermelho cintilante e brincos dourados, gosta de rua, sair e curtir. Assim como toda menina que gostava de bicho, sonhava em ser veterinária, agora quer trabalhar com venda para estar em contato com o público. Mais uma vez elas riem como se suas vidas tivessem a maior graça e pelo visto tinham.

Apesar da diversão e da descontração, ambas passam o dia inteiro de pé e chegam em casa bastantes cansadas. Tudo isso por R$250,00 ao mês, além de transporte e almoço. Assim como várias jovens negras, pensam em casar, mas atualmente seus companheiros trabalham na construção civil, a renda é insuficiente para manter uma casa.

A entrevista acaba e as duas seguem rindo, tiram a placa para não expor a empresa, pousam sorridentes para foto e voltam alegremente para colocar as placas, uma forma diferente de enfrentar as dificuldades que a vida empresta.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto...Fala um pouco da vida cotidiana das familias.. Fico triste ainda, ao ver jovens sairem (ou nunca terminarem) do 2º Grau sem uma profissão, que me perdem os idealistas da liberdade, mas sou de época em que o 2ºgrau era sinônimo de cursos profissionalizantes (enfermagem, patologia, maigistério, contabilidade, etc)e não de musicas de pagode que denigrem a mulher e sexualiza as crianças, na minha época escola não era local de violência e nem ponto de venda de drogas..
    Em fim, parabéns as irmãs "Santos"!, exemplos de mulheres guerreiras, que lutam diariamente para sobreviver nessa selva de pedra...Apesar da falta de oportunidades, vocês não baixam a cabeça, seguem em frente e sonham, não desistam..Parabéns a você Mia também pelo olhar critico...

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